25 de mar. de 2012

O doce amanhã

O advogado Mitchell Stephens (Ian Holm) vai a uma pequena cidade no interior do Canadá visitar e tentar convencer algumas famílias a pedirem uma indenização pelo acidente de ônibus que causou a morte de seus filhos. Além de lidar com a dor dessas famílias e conhecer os segredos da comunidade, Mitchell também está perdendo sua própria filha, Zoe, viciada em drogas. O filme faz um paralelo entre o acidente do ônibus escolar e o conto de fadas O Flautista Mágico, além de trabalhar a narrativa em três tempos distintos que são apresentados intercaladamente ao espectador: os momentos que antecederam o acidente, os esforços do advogado para representar as famílias no processo  da empresa de ônibus e, dois anos depois, o encontro em um voo entre Mitchell e uma amiga de sua filha, Allison. O filme é baseado no romance The sweet hereafter (1991), do escritor estadunidense Russel Bank.




Cenas marcantes:

Mitchell, em um lava-rápido de carros, recebe um telefonema de Zoe.

"Acidentes não existem. Essa palavra não me diz nada", Mitchell fala à sra. Otto.

Leitura em off de O Flautista Mágico por Nicole, enquanto ela tem um momento secreto com seu pai.

Mitchell conta a Allison uma história da infância de Zoe.

Mesmo com Billy dando-lhe as costas e indo embora, Mitchell continua a falar: "Algo terrível está acontecendo. E está levando nossas crianças. É tarde demais. Elas se foram".



A primeira vez em que vi O doce amanhã:

Foi em 2005 ou 2006, quando encontrei o DVD de O doce amanhã em uma banca de jornais na Av. Paulista. Não sabia nada sobre o filme, mas seu título e a capa do DVD me chamaram a atenção. Lembro de na época ter gostado muito da fotografia e do timing do filme, além do diálogo com o conto de fadas O Flautista Mágico. A sensação que ficou no final foi - ao contrário do título - um tanto amarga.







O DOCE AMANHÃ [The sweet hereafter]. Direção: Atom Egoyan. Produção: Atsuyuki Shimoda, Satoshi Kanno. Canadá: Ego Film Arts, 1997, DVD.

18 de mar. de 2012

Amor à flor da pele

Hong Kong, 1962. Mudam-se, para o mesmo edifício e no mesmo dia, o editor de jornal Chow Mo-wan (Tony Leung) com sua mulher e a secretária Su Li-zhen (Maggie Cheung) com seu marido. Sozinhos devido às frequentes viagens a trabalho de seus conjuges, Chow e Su começam a passar muito tempo juntos. A amizade entre os dois vai tornando-se emocionalmente ambígua quando descobrem que a esposa dele e o marido dela estão tendo um caso. Mesmo que busquem ser melhores do que seus conjuges infiéis, procuram manter a amizade em discrição diante dos vizinhos e dos colegas de trabalho.




Cenas marcantes:

Por acaso, Chow e Su encontram-se na escadaria que leva à barraca de macarrão, e trocam um olhar. Começa a chover.

Chow e Su jantam juntos e falam sobre seus respectivos conjuges.

Conversando na rua, Chow diz a Su: "Quando solteiros, temos mais tempo livre. Tudo muda quando casamos. Tudo tem que ser dividido junto. Não é? Às vezes me pergunto como seria se eu não fosse casado. Já pensou nisso?". Ela responde: "Talvez fosse mais feliz. Não sabia que a vida de casada seria tão complicada. Quando somos solteiros, só somos responsáveis por nós mesmos Mas, quando somos dois, estar bem consigo mesmo não basta".

Su ensaia com Chow o confronto com seu marido. Em outra cena, de contexto diferente, uma fala de Chow é repetida em off: "Por favor. É só um ensaio. Não chore".



A primeira vez em que vi Amor à flor da pele:

Foi Cinusp Paulo Emílio [http://www.usp.br/cinusp/], em 2003, na companhia de um amigo. Assistir a esse filme naquele momento da minha vida teve muito impacto para mim, pois eu também me encontrava em uma situação emocionalmente ambígua com alguém. Diferenças à parte entre a minha situação e a dos personagens na tela, Amor à flor da pele fez com que eu me sentisse um voyeur de mim mesmo durante sua exibição.







AMOR À FLOR DA PELE [Fa Yeung Nin wa]. Direção: Wong Kar-Wai. Produção: Wong Kar-Wai. Hong Kong, França: Jet Tone Films, 2000, DVD.

11 de mar. de 2012

Romance

A morte em um acidente suspeito de António César (Rodrigo Santiago) - intelctual de esquerda, que escrevia um livro no qual denunciava um escândalo internacional envolvendo o Deputado Tavares (Sérgio Mambert) e outras autoridades políticas -  afeta a vida daqueles que o amavam e o admiravam: Fernanda (Isa Kopelmann), companheira de António César, cuja tentativa de seguir o ideario libertário pode fazê-la perder-se em angústia; André (Hugo Della Santa), amigo dos dois, que não vive sua homossexualidade devido ao temor pela AIDS; e a jornalista Maria Regina (Imara Reis), que, em suas investigações sobre o escândalo e a obra de António César, tem que lidar com sua amiga Márcia (Cristina Mutarelli), Dona Cecília (Beatriz Segal) e o Deputado Tavares. Nenhum dos personagens é poupado nesse filme de Sérgio Bianchi, que conta ainda com as participações especiais de Elke Maravilha, Maria Alice Vergueiro e Ruth Escobar.




Cenas marcantes:

Fernanda dá uma "aula de etiqueta" a um rapaz.

Fernanda diz a Maria Regina: "E não se esqueça: é muito importante nesse país ser rico, branco, pele clara, olhos azuis, bem-educado, perfumado e, principalmente, ter todos os dentes".

Diálogo em close entre António César, Fernanda e André, seguido de diálogo entre André e um michê.

Márcia humilha um garçom e a intervenção metalinguística do diretor Sérgio Bianchi.

António César no gabinete do Deputado Tavares.



A primeira vez em que vi Romance:

Foi na mostra dos filmes de Sérgio Bianchi no Cinusp Paulo Emílio [http://www.usp.br/cinusp/] em 2000, à qual fui sozinho quase todos os dias. Eu saía de cada sessão mais e mais incomodado com aqueles retratos críticos do Brasil que tinha diante de mim na tela, e os risos nervosos da platéia me pareciam muito fora de hora... Em Romance, especificamente, o personagem mais incômodo foi André, mesmo que (ou justamente porque) ele me parecesse em segundo plano diante dos outros. E eu nem sabia ainda quem era Caio Fernando Abreu, que participou do roteiro do filme.







ROMANCE. Direção: Sérgio Bianchi. Produção: Oceano Vieira de Melo. Brasil: Sérgio Bianchi Produções Cinematográficas/Embrafilme, 1988, DVD. (Extras: Mato eles?, Divina providência e depoimento de Imara Reis.)

4 de mar. de 2012

O ódio

A cidade de Paris apresentada neste filme de Mathieu Kassovitz nada tem do glamour a que o espectador pode estar acostumado a ver no cinema, pois a Torre Eiffel está distante do conjunto habitacional decadente em que moram os jovens protagonistas: o judeu Vinz (Vincent Cassel), o norte-africano Saïd (Saïd Taghnnaou) e o negro Hubert (Hubert Kondue). No dia em que o árabe de 16 anos Abdel Ichah está em coma devido ao espancamento sofrido durante um interrogatório, os três amigos confrontam-se com a polícia abusiva diversas vezes, discutem sua realidade, e o ódio está à flor da pele. Quando um revólver carregado é encontrado por um deles, a ideia de atirar em um policial pode ser realizada a qualquer momento.




Cenas marcantes:

A voz em off que abre o filme: "É a história de um homem que cai de um prédio de cinquenta andares. O cara, durante a queda, repete sem parar, para se reconfortar: 'Até aqui está tudo bem. Até aqui está tudo bem. Até aqui está tudo bem.'. Mas o importante não é a queda, é a aterrissagem.".

De dentro do ônibus, Hubert vê o outdoor com o slogan: "O mundo é seu".

Interrompendo uma discussão entre Vinz e Hubert, um senhor conta a eles e a Saïd sobre sua deportação para a Sibéria com um amigo.

Vinz, Hubert e Saïd em uma exposição de artes plásticas.

Hubert diz a Saïd: "Olha pra todas essas ovelhas que seguem o sistema. Olha só esse aí. Ele não parece mau, só, no seu casaco de couro de cabra. Mas é a pior raça. Esses que seguem as escadas rolantes, que seguem o sistema, que votam na extrema direita, sem serem racistas.Também são eles que protestam quando a escada quebra. É a pior raça.".



A primeira vez em que vi O ódio:

Foi no projeto de exibições de filmes do cursinho pré-vestibular em que estudei no ano de 2001. O tique-taque do relógio que marcava a passagem das horas no filme soava mais como uma bomba-relógio prestes a explodir e eu - que geralmente sinto sono quando assisto filmes em preto e branco - me senti aflito e irriquieto ao longo dos 97 minutos de projeção, conhecendo uma outra Paris, sentindo também ódio diante das injustiças sociais.







O ÓDIO [La haine]. Direção: Mathieu Kassovitz. Produção: Christophe Rossingnon. França: Les Productions Lazennec, 1995, DVD.