29 de jul. de 2012

MAL DOS TRÓPICOS (Cannes 2004)


Mal dos Trópicos
Sud Pralad
, 2004
Tailândia/França/Itália/Alemanha
Drama - 118 min.
Direção e roteiro: Apichatpong Weerasethakul

Elenco
: Banlop Lomnoi, Sakda Kaewbuadee, Huai Dessom, Sirivech Jareonchon, Udom Promma


O nome do diretor é quase impronunciável e o filme segue essa incógnita de se traduzir pra tentar entender algo que mistura sentimentos de dois em um. Não se pode questionar que se trata de um filme dois em um, duas histórias, dois elementos em uma obra genial sobre a simplicidade de amar sem peso de nada.
Keng e Tong sao os dois jovens apaixonados que vivem na mesma cidade, curtem futebol, reunioes em família e vida noturna, mas Tong - que trabalha no campo - desaparece quando animais começam a aparecer decapitados na regiao e Keng - o soldado - parte floresta adentro pra resgatar o maior sentimento que se pode preservar... O que nos deixa cheio de reflexões, num escuro quase que mudo. O sentimento que preservamos pode estar ali na floresta, cheio de confrontos com fantasmas. Segundo a lenda da região, um homem pode se transformar num animal e é tentando desvendar mistérios como esse que o filme se estende e entende seu espectador.







Divirtam-se.


8 de jul. de 2012

A quem nos lê,

Semana que vem, Filmes aos domingos está de volta, com mais autores escrevendo sobre BONS FILME [sic].

Um@ beij@ e até lá,
Cesar R.

6 de mai. de 2012

A quem me lê,


Devido a compromissos diversos, "Filmes aos domingos" ficará em recesso nos meses de maio e junho. Mas não se preocupem: a partir de julho, voltarei ao blogue com mais bons filmes.


Um abraço,
Cesar R.

A Onda

O professor de Ensino Médio Rainer Wenger (Jürgen Vogel) tem que ensinar autocracia na semana da disciplina eletiva, apesar de querer dar aulas sobre anarquia. Como os alunos também não demonstram interesse pelo tema, Rainer decide fazer um experimento prático com seus alunos, em que mecanismos do fascismo e do poder são acionados durante as aulas. O movimento é batizado de "A Onda" e extrapola os limites da sala de aula ao longo da semana, tomando proporções preocupantes, uma vez que os alunos tomam para si os conteúdos abordados. Este filme é um remake de The Wave (1981) e baseado no ensaio The Third Wave (A Terceira Onda), do professor de História Ron Jones, que relata sua experiência em uma escola da Califórnia no ano de 1967.


Cenas marcantes:

Durante uma festa, Dennis fala para um amigo: "Me diz uma coisa: contra o que a gente vai se revoltar hoje em dia? Parece que mais nada vale a pena. A gente só quer se divertir. O que falta para nossa geração é um objetivo comum para unir a gente". O amigo responde: "Mas essa é a marca da nossa geração. Dá uma olhada. Qual a pessoa mais procurada no Google? A maldita da Paris Hilton".

Rainer faz seus alunos "marcharem" na sala de aula, fazendo muito barulho. Diz a eles: "Aos poucos, estamos nos tornando uma unidade. Este é o poder da união".

Todos os alunos do curso sobre autocracia usam o uniforme proposto por Rainer - camisa branca e calça jeans -, exceto Karo. Ela observa a empolgação de seus colegas com "A Onda".

À noite, os alunos colam adesivos e grafitam o símbolo d'"A Onda" pela cidade..

Em uma briga entre alguns membros d'"A Onda" e punks anarquistas, Tim assusta a todos.



A primeira vez em que vi A Onda:

Como alguns professores do curso de Licenciatura comentaram sobre esse filme, decidi assistí-lo em 2011. Foi fácil me envolver com os personagens e a história, mesmo que (ou, neste caso, justamente porque) sejam planos e bastante claros. Também gostei muito da simetria entre o começo e o final do filme.







A ONDA [Die Welle]. Direção: Dennis Gansel. Produção: Christian Becker. Alemanha:  Rat Pack Filmproduktion, 2008, DVD.

29 de abr. de 2012

A vida durante a guerra

Todd Solondz retoma neste filme - onze anos depois, com um novo elenco - quase todos os personagens de Felicidade: Joy (Shirley Herdenson) Trish (Allison Janney), Timmy (Dylan Riley Snyder), Bill (Charán Hinds), Allen (Michael Kenneth Williams), Andy (Paul Reubens), Billy (Chris Marquette), Chloe (Emma Hinz),  Helen (Ally Sheedy) e Mona (Renée Taylor); personagens novos também aparecem: Harvey (Michael Lerner), Jacqueline (Charlotte Rampling) e Mark (Rich Pecci). Ao longo da história, o lema de "perdoar e esquecer" é discutido pelos personagens, cujas vidas continuam marcadas pelos acontecimentos do passado, estejam eles cientes ou não disso.




Cenas marcantes:

À mesa em um restaurante com Allen, Joy diz ter tido um déjà vu. Eles conversam e uma garçonete chega para os atender.

Andy aparece para Joy e eles têm um longo diálogo sobre o passado.

Timmy chega em casa chorando e confronta sua mãe, Trish, a respeito de seu pai, Bill.

Bill bebe com Jacqueline. Ele diz a ela: "As pessoas não podem evitar, se são monstros". Ela completa: "Não podem ser perdoadas, também".

Os colegas de faculdade de Billy falam sobre seus pais problemáticos.



A primeira vez em que vi A vida durante a guerra:

Em 2011, ao encontrar por acaso o DVD de A vida durante a guerra em uma livraria, percebi que se tratava de uma continuação de Felicidade, mesmo que isso não estivesse expresso na sinopse do filme. Não gostei dele quando o assisti pela primeira vez, havia considerado desnecessária essa retomada. Depois, revendo-o em outros momentos, percebi que se trata de um filme muito bem construído e que ele pode ser apreciado tanto individualmente como ao lado de Felicidade.






A VIDA DURANTE A GUERRA [Life during wartime]. Direção: Todd Solondz. Produção: Christine Kunewa Walker, Derrick Tseng. Estados Unidos: Were Work Works, 2009, DVD.

22 de abr. de 2012

Viver a vida

Considerada a primeira obra-prima de Jean-Luc Godard, Viver a vida é um filme dividido em doze atos que contam a história de Nana (Anna Karina), uma moça de vinte e dois anos que se separa de Paul (André Labarthe) e que, diante de suas dificuldades financeiras, decide prostituir-se. Em seu percurso pela prostituição, Nana é apresentada por sua amiga Yvette (G. Schlumberger) a Raoul (Saddy Rebbot), que se torna seu cafetão, além de ter conversas com Luigi (E. Schlumberger), um velho filósofo (Brice Parain) e um jovem rapaz (Peter Kassowitz). Em francês, a expressão “viver a vida” funciona como gíria para descrever prostituição; a partir dessa expressão, Godard traz em seu filme reflexões filosóficas sobre o ato de viver. 



Cenas marcantes:

Nana e Paul terminam sua relação em um bar, de costas para o espectador.

Assistindo a Joana D'Arc, Nana chora.

Nana diz a Yvette: "Acho que somos sempre responsáveis por nossas ações. Somos livres. Eu levanto minha mão, eu sou responsável. Eu viro minha cabeça, eu sou responsável. Eu estou infeliz, eu sou responsável. Eu fumo um cigarro, eu sou responsável. Eu fecho meus olhos, eu sou responsável. Esqueço que sou responsável, mas eu sou".

Em um momento de descontração, Nana dança e sorri, observada por Raoul, Luigi e o jovem rapaz.

O velho filósofo conta a Nana uma passagem do livro Os Três Mosqueteiros, o que os leva a uma longa conversa filosófica sobre a linguagem e o amor.



A primeira vez em que vi Viver a vida:

Comprei o DVD de Viver a vida em 2011, pois estava sentindo necessidade de conhecer mais os filmes de Godard. Ao assistí-lo, fiquei muito desperto e atento (geralmente, filmes em preto e branco me dão sono e acabo cochilando no meio deles), achei que a história de Nana foi contada de uma maneira bastante elegante e inteligente, me identifiquei um pouco com a personagem e foi impossível para mim não fumar muitos cigarros enquanto via Nana e seus interlocutores conversando e fumando.







VIVER A VIDA [Vivre sa vie: film en douze tableaux]. Direção: Jean-Luc Godard. Produção: Pierre Braunberger. França: Pléiade, Pathé, 1962, DVD.

15 de abr. de 2012

Pepi, Luci, Bom

Em seu primeiro longa-metragem, Pedro Almodóvar conta a história de três amigas muito diferentes umas das outras: Pepi (Carmen Maura), que é sustentada pelos pais, tem sua virgindade tirada à força por um policial (Félix Rotaeta); Luci (Eva Siva), uma mulher de quarenta anos com desejos masoquistas, é casada com o policial que violentou Pepi; Bom (Olvido Gara), uma jovem lésbica, é a líder da banda punk Bomytoni. Quando Pepi, querendo vingar-se do policial, apresenta Bom a Luci, esta abandona seu marido. As três frequentam as noites underground de Madri, divertem-se e seus laços se estreitam enquanto o policial também busca vingança. Destaque para as participações especiais de Cecilia Roth e do próprio Almodóvar. O roteiro foi adaptado da fotonovela "Erecciones Generales", que Almodóvar pretendia publicar em circuito underground, por incentivo da atriz e amiga Carmen Maura.




Cenas marcantes:

Pepi e Luci tricotam e conversam. Bom chega.

O ganhador do concurso "Grandes Ereções" escolhe seu prêmio.

Pepi diz ao seu pai po telefone: "Vou provar para você que posso viver da imaginação".

Propagandas das calcinhas Ponte.

Pepi diz a Luci e Bom: "Somos pervertidas e modernas. Vamos!".





A primeira vez em que vi Pepi, Luci, Bom:

Foi em 2011, quando encontrei uma gravação do filme exibido na Rede Bandeirantes nos anos 1990. As vinhetas da Copa do Mundo na gravação tornaram o filme ainda mais kitsch aos meus olhos; e, mesmo com as precariedades desse primeiro longa-metragem (ou talvez justamente por elas), Pepi, Luci, Bom ganhou um lugar especial no meu coração.






PEPI, LUCI, BOM [Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón]. Direção: Pedro Almodóvar. Produção: Ester Rambal, Pastora Delgado, Pepón Coromina. Espanha: ?, 1980, DVD.

8 de abr. de 2012

O Homem Elefante

A partir de uma história verídica ocorrida na Londres vitoriana do final do século XIX, este filme em preto e branco de David Lynch narra a história de John Merrick (1862-1890), portador de terríveis tumores e deformidades em quase todo o seu corpo. Apelidado de "Homem Elefante", ele é retirado do circo de aberrações de Bytes (Freddie Jones) pelo dr. Frederick Treves (Anthony Hopkins) e internado em um hospital. Apesar das boas intenções do dr. Treves e do carinho da sra. Kendal (Anne Bancroft), uma famosa atriz de teatro, Merrick não estaria sendo ainda uma atração para a alta sociedade como foi no circo? Que perspectivas esse homem deformado e doente pode ter em uma sociedade que tanto preza pela elegância e que está em plena Revolução Industrial?




Cenas marcantes:

O dr. Treves diz aos seus colegas durante uma cirurgia: "Máquinas são coisas abomináveis. Não se pode argumentar com elas".

Close no dr. Treves, que chora ao ver John Merrick pela primeira vez.

John Merrick é exposto à comunidade médica pelo dr. Treves.

O dr. Treves tenta fazer John Merrick falar.

A sra. Kendal vai ao hospital conhecer John Merrick e diz a ele: "Ah, sr. Merrick, o senhor não é um Homem Elefante. O senhor é Romeu".



A primeira vez em que vi O Homem Elefante:

Comprei o DVD de O Homem Elefante em 2006, em uma banca de jornais na Avenida Paulista, pois já havia assistido a Cidade dos sonhos de David Lynch e queria conhecer mais filmes dele. Entretanto, filmes em preto e branco geralmente me dão sono, e até hoje nunca havia conseguido assistir a este por inteiro. Ao contrário de outros filmes de Lynch que vi, O Homem Elefante me provocou mais emoções, mais comoção pelo protagonista,  do que raciocínios intelectuais ou estranheza.







O HOMEM ELEFANTE [The Elephant Man]. Direção: David Lynch. Produção: Jonathan Sanger. Estados Unidos: Brooksfilms Production, 1980, DVD.

1 de abr. de 2012

Bruno

Bruno é um garoto prodígio de 8 anos, cujos hábitos de ler dicionários por diversão e de usar vestidos escandaliza e causa as piores reações de seus colegas de classe e das freiras na escola católica em que estuda, principalmente da Madre Superiora (Kathy Bates). Ele está dedicado a participar do Concurso Católico Anual de Soletrar e ainda lida com o divórcio de seus pais: a costureira Angela (Stacy Halprin), que sofre preconceito por estar muito acima do peso e que não consegue aceitar o fim do casamento, e o policial Dino (Gary Sinise), que se afasta cada vez mais da ex-mulher e do filho por não aceitá-los como eles são. Uma nova aluna, Shawniqua (Kiami Davael), a única garota negra da escola,  expressa-se livremente, também desafiando as percepções limitadas das freiras e dos colegas; Bruno e ela se tornam amigos. E Helen (Shirley MacLaine), mãe de Dino, é uma mulher firme que tomará uma posição a respeito de seu neto.




Cenas marcantes:

"Às vezes, sua roupa traz Deus para perto de você. Mas, às vezes, o que você veste te separa das pessoas", pensa Bruno.

Bruno pergunta a Shawniqua: "Você não acha estranho eu usar vestido?". Ela diz: "Por que não? Eu uso calça". "Mas é diferente", ele comenta, o que a leva a falar: "Não é, não. Somos espíritos livres tentando nos expressar".

No concurso de soletrar da escola, Bruno usa sua túnica sagrada, o que causa o riso das outras crianças e horror nas freiras. Shawniqua é a única que o aplaude.

Helen pergunta a Bruno: "Por que você quer ser uma menina?". Ele responde: "Não quero ser uma menina". "E o que você quer ser, então?", ela continua. Ele diz: "Um entomologista".



A primeira vez em que vi Bruno:

Em 2010, na casa de uma amiga, estava passando Bruno na televisão, já pela metade, e minha amiga me disse que era um bom filme; então, achei que seria melhor vê-lo por inteiro quando surgisse uma oportunidade. Pouco tempo depois, encontrei por acaso o DVD em promoção, perdido entre outros DVD's duvidosos. Assistindo ao filme, pensei em uma outra amiga minha (que é filha, justamente, da amiga que me indicou o filme), que conheci na escola em meu último ano de Ensino Médio; fiquei imaginando que, se tivéssemos nos conhecido ainda crianças, nossa amizade seria bem parecida com a de Bruno e Shawniqua.







BRUNO [Bruno/The dress code]. Direção: Shirley MacLaine. Produção: David Kirkpatrick. Estados Unidos: J&M Entertainment/Original Voices Inc, 2000, DVD.

25 de mar. de 2012

O doce amanhã

O advogado Mitchell Stephens (Ian Holm) vai a uma pequena cidade no interior do Canadá visitar e tentar convencer algumas famílias a pedirem uma indenização pelo acidente de ônibus que causou a morte de seus filhos. Além de lidar com a dor dessas famílias e conhecer os segredos da comunidade, Mitchell também está perdendo sua própria filha, Zoe, viciada em drogas. O filme faz um paralelo entre o acidente do ônibus escolar e o conto de fadas O Flautista Mágico, além de trabalhar a narrativa em três tempos distintos que são apresentados intercaladamente ao espectador: os momentos que antecederam o acidente, os esforços do advogado para representar as famílias no processo  da empresa de ônibus e, dois anos depois, o encontro em um voo entre Mitchell e uma amiga de sua filha, Allison. O filme é baseado no romance The sweet hereafter (1991), do escritor estadunidense Russel Bank.




Cenas marcantes:

Mitchell, em um lava-rápido de carros, recebe um telefonema de Zoe.

"Acidentes não existem. Essa palavra não me diz nada", Mitchell fala à sra. Otto.

Leitura em off de O Flautista Mágico por Nicole, enquanto ela tem um momento secreto com seu pai.

Mitchell conta a Allison uma história da infância de Zoe.

Mesmo com Billy dando-lhe as costas e indo embora, Mitchell continua a falar: "Algo terrível está acontecendo. E está levando nossas crianças. É tarde demais. Elas se foram".



A primeira vez em que vi O doce amanhã:

Foi em 2005 ou 2006, quando encontrei o DVD de O doce amanhã em uma banca de jornais na Av. Paulista. Não sabia nada sobre o filme, mas seu título e a capa do DVD me chamaram a atenção. Lembro de na época ter gostado muito da fotografia e do timing do filme, além do diálogo com o conto de fadas O Flautista Mágico. A sensação que ficou no final foi - ao contrário do título - um tanto amarga.







O DOCE AMANHÃ [The sweet hereafter]. Direção: Atom Egoyan. Produção: Atsuyuki Shimoda, Satoshi Kanno. Canadá: Ego Film Arts, 1997, DVD.

18 de mar. de 2012

Amor à flor da pele

Hong Kong, 1962. Mudam-se, para o mesmo edifício e no mesmo dia, o editor de jornal Chow Mo-wan (Tony Leung) com sua mulher e a secretária Su Li-zhen (Maggie Cheung) com seu marido. Sozinhos devido às frequentes viagens a trabalho de seus conjuges, Chow e Su começam a passar muito tempo juntos. A amizade entre os dois vai tornando-se emocionalmente ambígua quando descobrem que a esposa dele e o marido dela estão tendo um caso. Mesmo que busquem ser melhores do que seus conjuges infiéis, procuram manter a amizade em discrição diante dos vizinhos e dos colegas de trabalho.




Cenas marcantes:

Por acaso, Chow e Su encontram-se na escadaria que leva à barraca de macarrão, e trocam um olhar. Começa a chover.

Chow e Su jantam juntos e falam sobre seus respectivos conjuges.

Conversando na rua, Chow diz a Su: "Quando solteiros, temos mais tempo livre. Tudo muda quando casamos. Tudo tem que ser dividido junto. Não é? Às vezes me pergunto como seria se eu não fosse casado. Já pensou nisso?". Ela responde: "Talvez fosse mais feliz. Não sabia que a vida de casada seria tão complicada. Quando somos solteiros, só somos responsáveis por nós mesmos Mas, quando somos dois, estar bem consigo mesmo não basta".

Su ensaia com Chow o confronto com seu marido. Em outra cena, de contexto diferente, uma fala de Chow é repetida em off: "Por favor. É só um ensaio. Não chore".



A primeira vez em que vi Amor à flor da pele:

Foi Cinusp Paulo Emílio [http://www.usp.br/cinusp/], em 2003, na companhia de um amigo. Assistir a esse filme naquele momento da minha vida teve muito impacto para mim, pois eu também me encontrava em uma situação emocionalmente ambígua com alguém. Diferenças à parte entre a minha situação e a dos personagens na tela, Amor à flor da pele fez com que eu me sentisse um voyeur de mim mesmo durante sua exibição.







AMOR À FLOR DA PELE [Fa Yeung Nin wa]. Direção: Wong Kar-Wai. Produção: Wong Kar-Wai. Hong Kong, França: Jet Tone Films, 2000, DVD.

11 de mar. de 2012

Romance

A morte em um acidente suspeito de António César (Rodrigo Santiago) - intelctual de esquerda, que escrevia um livro no qual denunciava um escândalo internacional envolvendo o Deputado Tavares (Sérgio Mambert) e outras autoridades políticas -  afeta a vida daqueles que o amavam e o admiravam: Fernanda (Isa Kopelmann), companheira de António César, cuja tentativa de seguir o ideario libertário pode fazê-la perder-se em angústia; André (Hugo Della Santa), amigo dos dois, que não vive sua homossexualidade devido ao temor pela AIDS; e a jornalista Maria Regina (Imara Reis), que, em suas investigações sobre o escândalo e a obra de António César, tem que lidar com sua amiga Márcia (Cristina Mutarelli), Dona Cecília (Beatriz Segal) e o Deputado Tavares. Nenhum dos personagens é poupado nesse filme de Sérgio Bianchi, que conta ainda com as participações especiais de Elke Maravilha, Maria Alice Vergueiro e Ruth Escobar.




Cenas marcantes:

Fernanda dá uma "aula de etiqueta" a um rapaz.

Fernanda diz a Maria Regina: "E não se esqueça: é muito importante nesse país ser rico, branco, pele clara, olhos azuis, bem-educado, perfumado e, principalmente, ter todos os dentes".

Diálogo em close entre António César, Fernanda e André, seguido de diálogo entre André e um michê.

Márcia humilha um garçom e a intervenção metalinguística do diretor Sérgio Bianchi.

António César no gabinete do Deputado Tavares.



A primeira vez em que vi Romance:

Foi na mostra dos filmes de Sérgio Bianchi no Cinusp Paulo Emílio [http://www.usp.br/cinusp/] em 2000, à qual fui sozinho quase todos os dias. Eu saía de cada sessão mais e mais incomodado com aqueles retratos críticos do Brasil que tinha diante de mim na tela, e os risos nervosos da platéia me pareciam muito fora de hora... Em Romance, especificamente, o personagem mais incômodo foi André, mesmo que (ou justamente porque) ele me parecesse em segundo plano diante dos outros. E eu nem sabia ainda quem era Caio Fernando Abreu, que participou do roteiro do filme.







ROMANCE. Direção: Sérgio Bianchi. Produção: Oceano Vieira de Melo. Brasil: Sérgio Bianchi Produções Cinematográficas/Embrafilme, 1988, DVD. (Extras: Mato eles?, Divina providência e depoimento de Imara Reis.)

4 de mar. de 2012

O ódio

A cidade de Paris apresentada neste filme de Mathieu Kassovitz nada tem do glamour a que o espectador pode estar acostumado a ver no cinema, pois a Torre Eiffel está distante do conjunto habitacional decadente em que moram os jovens protagonistas: o judeu Vinz (Vincent Cassel), o norte-africano Saïd (Saïd Taghnnaou) e o negro Hubert (Hubert Kondue). No dia em que o árabe de 16 anos Abdel Ichah está em coma devido ao espancamento sofrido durante um interrogatório, os três amigos confrontam-se com a polícia abusiva diversas vezes, discutem sua realidade, e o ódio está à flor da pele. Quando um revólver carregado é encontrado por um deles, a ideia de atirar em um policial pode ser realizada a qualquer momento.




Cenas marcantes:

A voz em off que abre o filme: "É a história de um homem que cai de um prédio de cinquenta andares. O cara, durante a queda, repete sem parar, para se reconfortar: 'Até aqui está tudo bem. Até aqui está tudo bem. Até aqui está tudo bem.'. Mas o importante não é a queda, é a aterrissagem.".

De dentro do ônibus, Hubert vê o outdoor com o slogan: "O mundo é seu".

Interrompendo uma discussão entre Vinz e Hubert, um senhor conta a eles e a Saïd sobre sua deportação para a Sibéria com um amigo.

Vinz, Hubert e Saïd em uma exposição de artes plásticas.

Hubert diz a Saïd: "Olha pra todas essas ovelhas que seguem o sistema. Olha só esse aí. Ele não parece mau, só, no seu casaco de couro de cabra. Mas é a pior raça. Esses que seguem as escadas rolantes, que seguem o sistema, que votam na extrema direita, sem serem racistas.Também são eles que protestam quando a escada quebra. É a pior raça.".



A primeira vez em que vi O ódio:

Foi no projeto de exibições de filmes do cursinho pré-vestibular em que estudei no ano de 2001. O tique-taque do relógio que marcava a passagem das horas no filme soava mais como uma bomba-relógio prestes a explodir e eu - que geralmente sinto sono quando assisto filmes em preto e branco - me senti aflito e irriquieto ao longo dos 97 minutos de projeção, conhecendo uma outra Paris, sentindo também ódio diante das injustiças sociais.







O ÓDIO [La haine]. Direção: Mathieu Kassovitz. Produção: Christophe Rossingnon. França: Les Productions Lazennec, 1995, DVD.

26 de fev. de 2012

Um dia muito especial

Neste filme de Ettore Scola, o dia 8 de maio de 1938 em Roma é "um dia muito especial": enquanto ocorre o desfile oferecido por ocasião da visita de Adolf Hitler a Benedito Mussolini, é mostrado ao espectador um encontro quase sem testemunhas entre a dona de casa Antonietta (Sophia Loren) e o radialista Gabrielle (Marcello Mastroianni). Os dois personagens compartilham ideias, dramas e esperanças, mas no que esse encontro muda suas vidas ao fim do dia?



Cenas marcantes:

Antonietta e Gabrielle dançam ao som de uma rumba, até que a vizinha sintoniza em alto volume a rádio que está transmitindo o encontro entre Hitler e Mussolini.

Gabrielle lê uma legenda do álbum de recortes de jornal de Antonietta com fotos de Mussolini: "Inconciliável com a fisiologia e a psicologia feminina, o gênio é só masculino". Ela concorda com a frase, dizendo: "São sempre os homens que enchem os livros de história. Não é?" Ele responde: "Sim, sim. Talvez até demais! É por isso que não há espaço para mais ninguém. Muito menos para as mulheres".

Gabrielle diz: "Eu não creio que o inquilino do sexto andar seja anti-fascista. Diria antes, que o fascismo é anti-inquilino do sexto andar".

A sequência em que Antonietta caminha pelo apartamento de costas para o espectador.



A primeira vez em que vi Um dia muito especial:

Foi no Cine Belas Artes, um pouco antes de seu fechamento, sozinho, e ao final do filme lembrei do final do conto "Amor", de Clarice Lispector: "Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia", bem como pensei que, ainda hoje, ainda é possível encontrar histórias de vida que se assemelhem às dos personagens Antonietta e Gabrielle.







UM DIA MUITO ESPECIAL [Una Giornata Particulare]. Direção: Ettore Scola. Produção: Carlo Ponti. Itália-Canadá: Canafox Films, 1977, DVD.